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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Escola Reflexiva e Nova Racionalidade
In: ALARCÃO, Isabel. Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. Porto Alegre: Artmed. Editora, 2001.

A escola que se quer reflexiva é emancipadora, e é também uma escola vivida cotidianamente, dimensionada em seu projeto político-pedagógico-curricular, entendido aqui como elemento de organização do processo educacional que nele ocorre.
As teorias educacionais que defendem a prática social como ponto de partida e de chegada da prática educacional e que postulam uma análise dinâmica da relação sociedade-escola encontram sua gênese nos estudos heterodoxos do pensamento marxista, dos chamados revisionistas de Marx, que adotam o método dialético como caminho investigativo para a produção do conhecimento.
Apesar de pautada na libertação do homem pelo domínio do conhecimento e da crença da transformação global da sociedade, a teoria crítica da totalidade social apresentava-se determinista ao estabelecer as relações sociedade-escola, sobretudo porque admite uma total dependência da educação de uma educação de uma concepção de sociedade, a capitalista globalizada. Assim, para os defensores ortodoxos da teoria crítica da totalidade social, as relações escola-sociedade condicionam a atividade educativa e a teoria empregada para interpretar o processo social atinge o processo educacional por inteiro. Entre esses defensores, os mais radicais chegaram a advogar a descolarização da sociedade.
A escola hoje, é reconhecida em sua ambigüidade intríseca: uma certa dependência em relação aos modelos, ao assumir o papel conservador e uma relativa autonomia, também determinante daqueles modelos ao assumir seu papel inovador e co-criador da realidade social.
À medida que se aceitam as funções conservadoras, inovadoras atribuídas a escola e a possibilidade de ela se transformar em escola reflexiva e emancipadora, aceita-se também que ela não oferece aos sujeitos um caminho de mão única, mas um “vaivém”, entre a continuidade vivida das próprias experiências dos sujeitos participantes do cotidiano escolar e a construção do conhecimento mais elaborado pelo intelectual da educação.
Desenvolver uma cultura do “pensar a si próprio” requer a realização de momentos processuais coletivos de avaliação e formação dos sujeitos envolvidos no processo educacional, de modo que todos conheçam, vivam, critiquem e assumam essa cultura. É interesse a aproximação do conceito de consciência coletiva de Lefebre (1991).
Ao descrever e analisar a vida cotidiana como um nível de realidade social, Lefebre enfatiza que essa realidade social, marcada pelas relações das forças produtivas, o espaço no qual se concretizam as transformações através da ação do homem ativo, criativo e prático que ao mesmo tempo se transforma e provoca transformações.
A instituição escolar, em sua ambigüidade intrínseca, vive um cotidiano repleto de contradições, conflitos e lutas internas pelo domínio do poder e do saber.
É preciso ter clareza de que a formação dessa consciência coletiva é um processo histórico que impulsiona a transformação da ação-reflexão-criação coletivas, em um contexto determinado onde há embates de idéias convergentes e divergentes. Por certo, a organização escolar consiste em um desses contextos.
É preciso salientar a semelhança de concepções de práxis entre Kemmis (1999) e Lefebre (1979). Segundo esse último a práxis abrange a totalidade de prática humana, incluindo tanto a atividade humana, transformadora da natureza e da sociedade, quanto a formação da subjetividade humana.
Nessa perspectiva, a ação especificamente pedagógica do processo cognitivo estará cumprindo sua dimensão política e social, portanto deverá considerar a requerida reciprocidade entre a prática social global e a prática educativa escolar.
No Brasil, a importância que se atribui a essa função da escola implica, em primeiro lugar, uma política de desenvolvimento do pessoal que deve começar pela permanência do profissional em uma única escola, evitando a intensa rotatividade de professores do atual sistema de ensino. Essa política, sem dúvida, tem intrínseca relação com condições de trabalho, salários dignos e adoção da carreira de magistério.
O projeto político-pedagógico-curricular, como expressão concreta do trabalho coletivo da escola, por um lado, é um elemento mediador entre a cultura interna à escola e a cultura externa do sistema de ensino e da sociedade, na conquista da autonomia da organização escolar e, por outro, poderá tornar-se instrumento viabilizador da construção da escola reflexiva e emancipadora.
É preciso enfatizar que a transformação da escola historicamente conservadora e racional em escola reflexiva e emancipadora é um processo em construção e não acontece sem rupturas. Não é tarefa fácil romper com a ordem estabelecida, tampouco é fácil ultrapassar as molduras imóveis do definitivo e do acabado. Todavia, os autores reflexivos devem aceitar na possibilidade de mudança como resultado do esforço contínuo, científico, ético, solidário, coletivo e persistente que se processa em um momento iniciado na reflexão feita sobre as ações efetivadas na espessura concreta do cotidiano e, dialeticamente, a ele retorna com maior qualidade e mais consistência, voltando com vigor epistemológico e com força coletiva para provocar rupturas e (re)construir.

Comentário
As profundas modificações que têm ocorrido no mundo do trabalho trazem novos desafios para a educação. O capitalismo vive um novo padrão de acumulação decorrente a globalização da economia e da reestruturação produtiva, que por sua vez determina novas formas de relação entre Estado e Sociedade.

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